Morna alimento di nos alma/ cantal na partida bo cantal na regresso...<

11/03/2011

Orlando Pantera

Chamava-se Orlando Monteiro Barreto, mas todos o conheciam por Orlando Pantera. Pantera, porque quando criança adorava revistas da Pantera Cor-de-Rosa, hábito contraído em Angola, para onde os pais o levaram com um ano –nasceu em Novembro de 1967, (regressou a Cabo Verde em 1976, aos nove). Como andava sempre com as revistas, os amigos, num subúrbio da Praia, passaram a chamá-lo "Orlando Pantera". Morreu subitamente, na Cidade da Praia. Tinha 33 anos, no dia 01 de Março de 2001, três dias depois viajaria até Portugal para gravar o seu primeiro CD a solo, trabalho inventivo sobre pesquisas de batuque e funaná. A origem camponesa foi o que lhe permitiu a íntima relação com o húmus da música da terra mãe e lhe teceu a capacidade de utilizar instrumentos raramente tratados por outros: pilon, pau de colêxa, búzios, shelafon... Sons de outra têmpera que foram construindo o mundo melódico de um compositor que se destacou, nos últimos anos, como o principal estudioso das sonoridades da mundividência cabo-verdiana, dos «ecos» de trabalho - seja no pátio da casa, no trapiche do grogue, na courela ressequida -, dos acordes que fazem passar o tempo de espera por chuva e marcam casamentos, crenças, rodas. Ele era uma espécie de captador etnográfico com vestimenta de feiticeiro ouvidor de sons onde outros sabem ver ruídos apenas. Fundou o grupo musical Pentâgono juntamente com Djudja, Ulisses PortuguÊs, Lulan e Danilo Semedo. Enquanto instrumentista, acompanhou a «tournée» internacional de Ildo Lobo (1998), tendo composto para ele o êxito «Tunuca».
Juntamente com o grupo Raiz di Polon, que integrava, apresentaram no CCB, CV Matgrix 25 e Pêtu, duas peças em que representava e tinha a responsabilidade da direcção musical.
Entretanto, estava já laborando na banda sonora do próximo filme do cineasta guineense Flora Gomes, Nha Fala, comédia musical a rodar em Cabo Verde, que já não poderá contar com o seu instinto e genialidade.
O primeiro dia de Março deixou muito mais pobre a música das ilhas crioulas. Mas é toda a noção de Cultura em Cabo Verde, e não só, que fica ferida com a partida do Orlando Pantera.
Morreu aos 33 anos, mas em Cabo Verde já era um mito. Há quem fale em Orlando Pantera como a maior descoberta musical da década.
Quando se fala com quem o conheceu várias ideias se repetem. A de que nele as pulsações nasciam da música e batiam ao ritmo de uma criatividade generosa. A de que a naturalidade com que musicava a vida era uma dávida (talvez ele, católico, pensasse que de Deus) a partilhar com os outros.
Considerado percursor de um novo estilo na música cabo-verdiana, foi letrista (poeta, diriam alguns), compositor, multinstrumentista e só nos últimos anos de vida é que cantou em público. Musicava os homens e mulheres do campo, o amor e suas desilusões - "sou cabo-verdiano", lembrava. Desenterrou géneros tradicionais da ilha de Santiago esquecidos pelas gerações pós-independência e, sem os reproduzir mas respeitando-os, criou o seu estilo, admirado por consagrados e jovens.
Na altura em que começou a cantar em público, a maioria dos espectadores talvez ainda não associasse o seu nome ao do compositor que havia criado uma canção para Grace Évora e três temas para o álbum dos Tubarões, "Porton di Nôs Ilha". Foi com estes que foi galardoado com o Prémio Compositor do Ano, em 1993, e foram essas músicas que o tornaram estrela. Apesar de ainda não terem "traços do que viria fazer" - dois funanás e uma coladera -, introduzem "uma lufada de ar fresco no disco dos Tuburões, dando mais ênfase ao trabalho" do grupo.
Segundo ele dizia: "É preciso observar, viver e guardar na alma".
À maneira do homem do campo. Na altura em que começou a dar espectáculos, levava as camisas e calças à boca de sino "à maneira do homem do campo", demonstrando expressões a cantar que reproduziam "os homens e as mulheres cabo-verdianas do campo".
Eram estas expressões, o trabalho com o corpo e a recriação do ambiente onde nasceu e cresceu, que Pantera levava para o palco. Tocava de forma moderna, batia nas cordas como os músicos de rock. Na sua técnica não havia nada de tradicional e era isso que fazia a diferença. Já a cantar, havia semelhança com as cantadeiras de finaçon, na forma como entoava uma frase, outras, como os rappers, ia non stop.
O que é que era inovador? "O facto de Pantera juntar as duas partes que compõem o batuque - o finaçon (textos) e a sambua (ritmo) - com o violão e a voz, fundindo ainda vários estilos (jazz, rock, pop, música africana, brasileira...)."
Nunca se vai saber como seria o primeiro disco de Pantera. Nem ele próprio o havia definido. Eram várias as ideias que surgiam de dia para dia. Suas atuações foram varias, como exemplo, Quintal da Música, no Pub Cruzero, no Parque 5 de Julho, nos festivais da Gâmboa (Praia), Baía das Gatas (Mindelo) ou Sete Luas Sete Sóis (Santo Antão) demonstrando bem que o trabalho que iria gravar seria um dos momentos marcantes da música cabo-verdiana. Antes de estar pronto, "Lapidu na Bô" já era um sucesso entre admiradores.

Sua biografia se resume em suas proprias palavras: "Ó ki'm morrê antes tempo ressuscitan sem licença”

Revolução. Depois do fenómeno Carlos Alberto Martins (Catchás), o homem que no final dos anos 70 "transportou" a música rural da ilha de Santiago para os centros urbanos, depois de electrificá-la, morrendo também prematuramente em 1988, aos 36 anos, Pantera vinha operando outra revolução. Diferente daquela realizada pelo seu ídolo Catchás e os Bulimundo nos anos 70 e 80. A revolução de Pantera era mais discreta. A dele era uma música acústica e experimentalista, com influências afro-americanas, mas também profundamente cabo-verdiana. Pantera era uma síntese de Catchás, Antoni Denti D'Oro, Codi di Dona, Ano Nobo, Sema Lopi... Como esses trovadores, mergulhou nas raízes do mundo rural da ilha de Santiago, transformando cada composição numa crónica musical, revestida com ritmos que fogem aos géneros tradicionais. Como disse alguém, andava a criar o seu próprio género musical.
Aprendeu os primeiros acordes, em Luanda, numa viola construída a partir de uma lata de azeite . Mais tarde, já de volta ao país natal, aprofundou os seus conhecimentos com o professor de música Kubala. Em 1993 conheceu um músico cabo-verdiano, com formação em jazz, Ney de Belinda, com quem privou e que o introduziu nesse género durante um ano.
Trabalhou na recuperação de crianças, palmilhou a ilha de Santiago, captando o linguajar e a filosofia de vida das pessoas. Além de procurar mostrar o caminho da vida aos seus alunos da Aldeia S.O.S. da Assomada, ensinava-lhes os segredos da música. Era adorado. Desse contacto com a realidade resultou um conhecimento mais profundo da ilha maior de Cabo Verde, fonte principal das composições deste músico que escrevia músicas como quem faz "leads".
Dez anos após a morte, a música e a imagem jovial, simpática e alegre de Orlando Pantera continuam por aí, "lapidu" naqueles que conheciam o seu valor e sabiam o que ele ainda tinha a dar a Cabo Verde.
Extraido de:www.orlandopantera.blogspot.com
Editado por FF

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Músicos unidos pelos direitos online

Radiohead, Kaiser Chiefs, Blur, The Verve e Robbie Williams são alguns dos nomes que se associaram à Featured Artists Coalition (FAC) em defesa dos direitos dos músicos no mundo digital.
A FAC conta com 140 membros e pretende representar os principais protagonistas nas discussões que se levantam actualmente no sector, como a criminalização do download ilegal de músicas. Na sua primeira reunião, realizada esta quarta-feira, 11 de Março, os membros da FAC votaram maioritariamente contra a abertura de processos judiciais por esse motivo, referindo que tais medidas proteccionistas adoptadas pela indústria musical equivalem a “colocar a pasta de dentes outra vez no tubo . “Os artistas devem ser titulares dos direitos e decidir quando a sua música pode ser usada gratuitamente e quando é preciso pagar por ela”, referiu Billy Bragg à imprensa.

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